17.1.12



A nostalgia se personifica nela. Ela é toda e qualquer coisa de nostalgia. A primeira lembrança que tenho dela, é dela tirando tomates cerejas de seu jardim. Não, ela não era magra e, também não andava devagar como anda agora. Era daquelas mulheres altas, fortes, que andava para lá e para cá. Anos e anos depois, minha mãe me disse que ela tinha estado no hospital e que seria importante para ela que fôssemos encontrá-la. Assim foi, e desde então sempre que volto para Tatuí eu vou visitá-la. Virou uma daquelas coisas que fazemos sem que tenha um acordo claro e falado. É assim, quando venho, vou vê-la. E ela fica todo sorrisos.
Visitá-la é correr no tempo de mãos dadas com ela. E trinta anos, para ela, "faz algum tempo" que aconteceu. As histórias são repetidas, mas revividas com tanta saudade que chega a me dar angústia. Tanta saudade, sem poder matá-la. Saudade de coisas boas, nunca a vi reclamar da vida. Nunca a vi reclamar do seu casamento, de seus familiares, do trabalho; ao contrário, quantos elogios. Uma vida bem vivida. Cheias de histórias para contar. E que saudade da irmã que morreu aos 30 anos, que de tão nova, não viu os dois filhos crescerem. Seu marido nunca mais casou. Mais de 40 anos depois de sua morte, seu marido, quando falava nela, ameaçava chorar. Ela também fica com os olhos marejados ao lembrar da irmã que faleceu tão nova. É assim com todos por quem ela tem um carinho tão grande, que passa os dias revivendo o que foi vivido.
E quanta saudade, o tempo passa de uma forma diferente para ela, como se o tempo estivesse indo ao encontro das pessoas amadas. Ao encontro das pessoas que deram carinho a ela e, que ela também viveu para dar carinho e atenção. Assim ela vive, sem saber até quando, revivendo o que foi vivido da forma mais plena possível, com o coração...

O que é o importante é viver...