16.6.12

A cidade chorava, chorava como se sentisse saudade, como se sentisse a dor de sua partida.

Ele chegou, mas não como estávamos acostumados. Ele chegou deitado,  de terno preto, camisa branca e com uma gravata azul. Estava com uma expressão serena, tranquila, como se estivesse a sonhar. E ali ele permaneceu, poderia olhá-lo por vários ângulos, mas ele não ligava. Nem sequer reclamava por olhá-lo por tanto tempo e de tantas formas. Lá estava ela ao lado do caixão. Tudo parecia um pesadelo. Olhava para ele como se ele olhasse para ela, pensava como se ele pudesse ler seus pensamentos. Fazia carinho na sua mão, no seu cabelo, até mesmo na sua face, como se ele continuasse a sentí-los. Passou a mão em sua barriga e sentiu que estava dura e pensou que , talvez, ele pudesse estar sentindo dor. Logo lembrou que o sofrimento já tinha acabado. Ao vê-lo, notou que já não era mais ele. Ao tocá-lo, sentiu que já não trazia mais consigo o calor. Foi desesperador. Sentiu seu coração se despedaçar, sentiu a ausência que se anunciou por tanto tempo, sentiu sua vida perder o sentido e o gosto do adeus. Todavia, ela continua pensando que no horário da visita, mesmo sabendo que ele já não se encontra mais lá, poderá vê-lo pelo menos mais uma vez; que poderá apertar a sua mão e fazer carinho na sua cabeça. Os seus olhos se enchem de lágrimas, seu coração de dor e sua vida não é mais sentida da mesma forma. Tudo que ela fazia perdeu um pouco da razão. A sua dor é como um copo a transbordar.

(Ela continuava ao lado do caixão) Sentia em muitos momentos uma fraqueza que parecia querer derrubá-la. Em alguns momentos quase derrubou, suas pernas se enfraqueceram, amoleceram, mas ela não caiu. Decidiram uma hora, uma hora que a partir dali não os veriam mais. Nunca mais! A saudade era enorme e dolorida. Parecia que tinham tirado um pedaço grande de seu coração, parecia não, tiraram. Ficou um buraco, um buraco que insiste em não querer ser fechado.

(Fecharam o caixão)

E o desespero foi tão grande que ela sentiu mais uma vez aquela fraqueza que quase a derrubou e novamente tentava. Alguns homens o levaram até um carro. Era daqueles carros que ela sempre teve medo, que ela jamais entraria dentro. Assim o levaram até o cemitério. Novamente abriram o caixão e ali foi seu ultimo adeus. A cidade já tinha parado de chorar. Sabia que ele ia permanecer ali. Ela já não chorava mais também, sentia que ele ia continuar com ela. Que a vida continuaria por ele e que por ele teria forças para superar.



É por ele que o show continua....