5.7.11

A hora do cansaço

As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Tem dias que Drummond fala mais alto. Que me impressiono com a forma que ele me atinge. Que percebo o quanto estou cansada de respirar a eternidade, e vejo, e sinto, a finitude das coisas. E eu me pergunto, como ontem, e hoje, até quando? Até quando rebaixaremos o amor ao estado de utilidade?

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